O NEGRO E A MÍDIA EM MESQUITA
Por Rosário Medeiros / Blogueiras Negras
Com esta pergunta começo o meu artigo, sem a pretensão de esgotar o assunto, mas de levantar algumas questões sobre a inserção do negro na televisão brasileira. Estamos no século XXI e ao ligarmos a TV, temos a sensação que muito pouco mudou.
Encontramos uma participação maior do negro na televisão, é fato, porém continua a vinculação do estereótipo do negro que samba, gosta de pagode, é malandro ou exerce profissões subalternas e quase imperceptíveis. Muitos negros não gostam de samba, alguns nem sabem sambar, curtem outros estilos, mas esses nunca são representados na televisão. A sociedade mudou e ainda não conseguimos ver o reflexo disso na telinha. Não existe o que os mais modernos chamam de “democracia racial”, embora muitos projetos levantem a bandeira. Somos mais de cem milhões de brasileiros, representamos mais de 50% da população e o instrumento mais popular, que é a televisão, não nos representa.
Muitas pesquisas mostram que isso é o reflexo da sociedade, poderíamos citar a ausência do negro em outros espaços socialmente representativos. De acordo com uma pesquisa realizada em 2010 pelo Instituto Ethos e pelo Ibope, os negros ocupam 25,6% dos cargos de supervisão, 13,2% dos cargos de gerência e 5,3% dos cargos executivos nas empresas brasileiras, embora, segundo o IBGE, 50,7% dos brasileiros sejam pretos e pardos (categorias usadas pelo próprio IBGE).
UM POUCO DE HISTÓRIA
Para destacar um exemplo positivo, de um país que tem 12% da população negra e sua representatividade na mídia é muito grande, é nos Estados Unidos. De acordo, com João Batista de Jesus Félix, no texto O “Negro”, na Televisão Brasileira, “nos Estados Unidos, os “negros”, conquistaram o direito de fazer filmes estrelados por eles mesmos. Produções que permitiram o surgimento e a consolidação de muitos atores “negros” como Denzel Washington, Halle Berry, Samuel Jackson, Morgan Freeman etc”.
Cito os Estados Unidos, porque lá também teve escravidão, e na década de 60, quando os negros no Brasil estavam sendo escanteados na televisão, lá se iniciavam as discussões que resultaram nas Políticas de Ações Afirmativas (que chamam Movimento de Liberdade Civis), que tinham como meta principal patrocinar a inserção dos “negros”, “latinos” e “mulheres” e outros setores marginalizados, em posição de destaque social, resultado das lutas desenvolvidas pelos negros contra o racismo que dominava o sul daquele país.
Nesse mesmo período grandes líderes como Malcolm X, Martin Luther King e Robert Kennedy foram assassinados e a partir desses acontecimentos trágicos, os Estados Unidos passou a assumir uma posição sociopolítica de igualar as condições sociais e econômicas, principalmente dos negros. No Brasil, na mesma época, vivíamos uma Ditadura cruel, que só queria calar a boca do povo.
Exatamente com tudo isso acontecendo, surgiram os primeiros seriados americanos com negros protagonizando, o primeiro foi “Destemidos”, que estreou o ator Bill Cosby que teve tanto destaque e ganhando, como primeiro negro, a ganhar mais de 3 Emy como ator dramático, o mais importante TV Americana. No mesmo período veio “Julia”, uma comédia, com a atriz Diahann Carrol, que era uma enfermeira negra e também grande destaque. Outros seriados foram surgindo nas décadas seguintes, até os mais famosos como “The Jackson Five”, “The Cosby Show”, e as mais famosas aqui e que conhecemos bem, são exibidas até hoje no SBT como: “Arnold”, “Um Maluco no Pedaço”, “Eu, a patroa e as crianças” e as “Visões da Raven”.
No mesmo período no Brasil, tivemos alguns “destaques” positivos e outros bem negativos, com a utilização do “Black face”, atores brancos pintados para representarem negros. O maior fiasco desse gênero na década de 60, foi “A Cabana do Pai Tomás”, da Globo 1969, em que o ator Sergio Cardoso, galã da época, pintado para representar um negro, ainda colocava rolhas. O protesto contra a série foi liderado pelo diretor e ator Plínio Marcos, “branco”, no que seria caracterizado “como a marginalização do ator negro na televisão”.
Antes desse episódio medonho, um megassucesso foi “O Direito de Nascer”, da TV Tupi em 1965, provocando verdadeira histeria popular. Dolores, uma das personagens mais importantes da trama, a empregada-confidente, Maria Helena, criava o protagonista, Albertinho. No geral, entretanto, os atores negros ficavam emparedados em funções pouco importantes. No mesmo, ano a TV Tupi exibiu a novela “A Cor da Sua Pele” com a atriz negra Yolanda Braga como protagonista de enorme sucesso. Infelizmente a emissora faliu, e passamos a ter apenas a rede Globo como principal produtora de novelas.
Em 1976, a “Escrava Isaura”, uma história que foi sucesso mundial, trazia uma escrava como protagonista, mas representada por uma atriz branca, Lucélia Santos que atua com centenas de atores negros. Foi traduzida em mais de 50 idiomas diferentes. De acordo com alguns críticos de TV, o autor Gilberto Braga, deu destaque para vários atores na trama.
Com tanta coisa acontecendo surge o período dos casais inter-raciais como na novela “Corpo a Corpo”, em 1986, em que Zezé Motta fazia par romântico com o ator e diretor Marcos Paulo, falecido recentemente, o que despertou em muitos telespectadores fortes reações discriminadoras. O ator chegou a declarar que sua secretaria eletrônica, ficava lotada de “recados racistas”. Vinte anos depois, a relação inter-racial se repetiu com a novela “Na Cor do Pecado”, protagonizados pela Taís Araújo e Reinaldo Gianecchini. Depois surgiu a primeira família classe média negra, em “A Próxima Vítima”, o que “causou” uma certa estranheza também.
Não podemos esquecer, de “Xica da Silva”, da extinta TV Manchete, em que revelou para a dramaturgia a atriz Taís Araujo, sem pretensões filosóficas a novela, mostrava uma relação de poder não muito convencional da protagonista com os demais da trama.
Em Mesquita o evento, O Negro e a Midia foi representado por vários negros de destaque e foi um debate cultural muito enriquecedor com artistas passando um pouco de suas historias e o que passam no dia a dia.
Comentários
Postar um comentário